sábado, 31 de março de 2007

Se Puder Sem Medo

[Oswaldo Montenegro]

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás a porta
Deixa o que não for urgente eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava

sexta-feira, 30 de março de 2007

Pra quê nexo se só sei chorar?

Término é sempre término. Mesmo sabendo que há a possibilidade da volta, mesmo tendo consciência de que o outro vai voltar atrás na decisão, mesmo assim...
A gente chora, sofre, ouve uma música e se entrega pra fossa, e como sofre e chora. Repete a música-tema eleita mil vezes e acha que se chorar bastante – não importa se no ônibus ou no banheiro com a porta fechada e a luz apagada – a dor vai passar mais rápido. Triste engano. Aí a gente chega à conclusão que só mesmo o tempo, só ele, pra ajudar a doer menos. Busca-se apoio até nos pensamentos mais remotos. Concentrar em tarefas as mais complexas. Assistir tevê como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Conversar com todo tipo de gente. Buscar a biografia daquele ator do cinema de quem nunca lembro o nome. Ler as letras de todas as músicas no site dos cantores prediletos. Mexer no perfil do Orkut. Mandar e-mail pra meio mundo. Deixar scrap pra família inteira. Pensar em mil motivos pra cabeça doer tanto e não encontrar nenhum. Ouvir, agora, “Resposta ao Tempo” com a Nana Caymmi e achar que foi feita pra esses momentos... Tanta coisa, tanta emoção, tanta lágrima. Viver é isso? Acho que sim. Penso que vivo isso porque é assim que me sinto viva. Porque eu poderia simplesmente passar pelas coisas sem senti-las, sem perceber, sem sofrer. Mas se sofro é porque estou viva. Feliz ou infelizmente.


Resposta ao Tempo
[Aldir Blanc/Cristovão Bastos]
Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei

Num dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos

Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, e ele não vai poder, me esquecer

domingo, 18 de março de 2007

Às escolhas da vida

Primeiro post. Primeiro blog. Primeira vez. O que isso sugere...?
Minhas primeiras vezes não foram de todo ruim, a não ser a primeira vez de coisas que são invariavelmente ruins. O primeiro tombo, o primeiro tropeço, a primeira desilusão amorosa, a primeira traição...
Mas na primeira vez em que amei, me senti amada. O primeiro beijo foi gostoso. A primeira amizade foi realmente verdadeira. A primeira transa foi na hora em que eu quis. Então, como fiz esse blog no momento em que me vi cheia de coisas a dizer, espero ter feito a escolha certa. Eh, porque a vida é feita de escolhas.