quinta-feira, 19 de abril de 2007

Hotel Fraternité
Arnaldo Antunes / Aldo Fortes / Hans Magnus Enzensberger

aquele que não tem com o que comprar uma ilha
aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
aquele que olha nos olhos duros do chantagista
aquele que range os dentes nos carrosséis
aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
aquele que toca fogo em cartas e fotografias
aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
aquele que alimenta os esquilosaquele que não tem um centavo
aquele que observaaquele que dá socos na parede
aquele que grita
aquele que bebe
aquele que não faz nada
meu inimigo
debruçado sobre o balcão
na cama em cima do armáriono chão por toda parte
agachado
olhos fixos em mim meu irmão

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Homem com H

Hoje, mais uma vez, percebi o quanto gostaria de ter nascido homem. Não tem nada a ver com ciclo mentrual, nem com sutiã (ou a queima deles), ou com o cabelo que sempre está uma droga. Simplesmente tive mais uma prova de que os homens são mais leves, mais desencanados, mais relaxados. Vi que no universo masculino há mais cordialidade, menos picuinhas, mais doçura. Tenho convivido com três homens que moram juntos e os vejo com uma amizade linda. E não falo de confidências e segredos. Falo aqui do fino trato entre eles, pois conseguem mandar o recado em tom de brincadeira e o interlocutor entende e não se irrita. Eles tiram sarro uns com os outros o tempo todo e ninguém fica com raiva. É uma relação realmente bonita. E o resultado disso é a casa com uma atmosfera leve e deliciosa.
Acho que quando eu crescer quero ser homem!

Procura-se

Você já passou mais de um mês procurando alguma coisa?
Se não, você não pode imaginar o que isso significa e nosso assunto termina por aqui.
Se sim, nosso papo pode continuar.
Pois bem. Estou há exatos 32 dias procurando, procurando sem encontrar. Procurando emprego. Tudo bem, eu sei, a coisa não está mesmo fácil. Mas nem um sinalzinho de fumaça, nadinha de nada. Tudo bem, não vou me desesperar porque sei que não vai resolver... Enquanto isso vou resolvendo mil e uma coisas, conseguindo outras que nem acreditava que podia, mas sem emprego é phoDa.
E, como se isso não bastasse, sou uma sem-lar!
Passar mais de 30 dias vivendo em casa de amigos (queridíssimos, solidários e inesquecíveis, por sinal) deixa qualquer um a ponto de explodir e denota que você é uma pessoa sem-lar. Todas as suas coisas em bolsas, sacolas e pastas. O quarto do amigo agora é uma verdadeira bagunça, e, o pior de tudo, você tem a medonha sensação de estar incomodando. Você, de tanto não querer incomodar, acaba incomodando ou tem a impressão de que é a coisa mais incômoda do mundo. E sente-se super incomodada com toda a situação. E não há, nem no (belo) horizonte, o menor sinal de que vai se mudar.
Isso tudo me lembra que uma das coisas que mais me irrita no mundo é procurar algo e não encontrar. Pronto, falei. É isso. Estou deverasmente irritada com tudo.


Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Que a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem*


*Trecho de Pedro Pedreiro, de Chico Buarque de Hollanda